A Síndrome de Diagnóstico

"Nós estamos vivendo um momento na sociedade e no mundo em que a vida está sendo muito medicalizada. Medicalizar é transformar, artificialmente, problemas coletivos, de ordem política, social, cultural e de educação em doenças individuais.

Hoje, não existe mais tristeza, só depressão. A criança que tem um comportamento que não satisfaz ou incomoda os adultos, é transformada em doente. Quando se busca a comprovação dentro do rigor da ciência médica, isso não existe".

Este foi um alerta dado por Maria Apparecida Moysés, médica e pesquisadora da Unicamp. E que conduz, imediatamente, a outro desdobramento desta prática de utilizar o remédio para a resolução de todos os problemas, pois o mundo cresce e evolui através dos questionamentos, da busca da causa e do estudo das conseqüências. Foi pensando assim que chegamos até aqui.

Agora, se para qualquer tipo de dor, de possibilidade de críticas e discussões, nós já engolimos uma pílula e acabamos com o momento de criação do novo; na verdade, estamos abortando as nossas chances de evolução criativa.

Isso me faz recordar uma doença corporativa que também inibe a criatividade e é altamente contagiosa. E por ser muito recorrente, já pude observar em outras pessoas, e até em mim mesmo – a Síndrome de Diagnóstico.

Quando você tem todas as suas células infectadas por sentimentos de dúvidas e falta de noção de aproveitamento do tempo. Seu principal sintoma é a constante confabulação sobre assuntos ou pessoas fora de seu alcance de ação, mais precisamente, é quando o infectado utiliza mais de 70% do tempo de seu almoço junto de seus colegas analisando e analisando as atitudes do chefe. Sendo que nada pode ser feito no caso em questão. Outro exemplo de manifestação da Síndrome é o constante diagnóstico – sempre inflexível - sobre todas as ações da diretoria, sendo que na maioria das vezes nenhuma dessas ações interferem em seu trabalho.

Muitas vezes o acometido por esta terrível doença emprega grande parte de sua energia em tentar mudar o que não pode ou não será mudado, indiscutivelmente. Com isso perdendo o foco de seus objetivos e ganhando a grande possibilidade de amanhã ser ele próprio o analisado.

O principal sistema a ser atingido no corpo doente é o do engajamento, que fica em absoluto estado de putrefação, não podendo mais ser restaurado. As sequelas nos órgãos motivacionais são imensas, pois após o contagio fica praticamente impossível do doente-funcionário se locomover sozinho. Ficando dependente de seu grupo de análises vazias até o óbito (ou demissão).

A cura para esta mazela ainda está em estudo em diversos laboratórios de Endomarketing no mundo, mas, para o caso de um atendimento imediato posso receitar: Doses cavalares de atenção e esforço para a compreensão de tudo o que é comunicado internamente; afastamento radical do grupo de contágio; prática de exercícios para a obtenção de foco nos seus objetivos e da empresa e, o mais importante; a ingestão todas as manhãs do composto vitamínico contendo determinação, seriedade, compromisso e paciência.